quarta-feira, 10 de novembro de 2010

Bocejo

Já estava ansioso pelo fim do expediente. No corredor, cruzou com uma moça que não gostava muito dele, ignorou a presença dela, deu “bom dia” para as outras pessoas e se sentou em frente ao computador. O mesmo lugar onde se sentava há alguns meses, sob a mesma janela de vidro coberta por uma persiana de cor entediante.

Seis horas, finalmente. Pegou o elevador, ansioso pelo cigarro do fim do expediente. Fumou, entrou no ônibus, foi para a faculdade. Fez de conta que prestou atenção às aulas, jogou conversa fora com alguns amigos, fumou outros tantos cigarros. Ansioso pela sua cama, entrou no ônibus e foi embora.
Jantou, fez de conta que assistiu televisão (na verdade, cochilou no sofá) e foi dormir. Esperando por um dia emocionante quando acordasse.

Acordou. Olhou pela janela e pensou que aquele seria mais um dia como qualquer outro, com um monte de coisas para resolver antes de ir trabalhar, mas resolveu que não pensaria naquilo naquele momento. Respirou fundo, bateu a cabeça algumas vezes no travesseiro, talvez na esperança de se machucar e não ter condições de encarar o dia, talvez na intenção de acordar de vez.

Levantou já que não tinha opção, foi até a janela e acendeu o primeiro cigarro do dia. Sentiu a mesma leve tonteira que sentia todos os dias, quando acendia o primeiro cigarro. Pensou em parar de fumar, mas resolveu parar de pensar em parar de fumar.

Tomou banho, vestiu a mesma calça de ontem, uma camisa qualquer e desceu pra tomar café. Trancou o portão, acendeu outro cigarro, entrou no ônibus. Caminhou naquela avenida cheia de estranhos sob o sol do meio-dia, observou o prédio onde trabalhava e entrou no elevador.

Um comentário:

Gabi César disse...

Todo dia ela faz tudo sempre igual, me sacode às seis horas da manhã