sexta-feira, 26 de fevereiro de 2010

.do que eu deixei de ser

Quando eu era jovem, achava que quando estivesse com meus 23, 24 anos seria um profissional realizado. Minha mente juvenil imaginava que o caminho para a realização era fácil e principalmente, acreditava que estava no caminho certo. Não que fosse totalmente errado, mas enfim. Eu achava que nessa idade eu já teria minha própria casa, talvez um apartamento no centro da cidade, onde eu receberia meus amigos tão bem sucedidos quanto eu. Queria ser desenhista, artista, cantor. Queria viver de arte, viver do que eu faço melhor e sem esforço. Provavelmente teria um relacionamento estável e algum bicho de estimação. Em algum momento da minha juventude, decidi que faria algum curso superior ligado a arte. No momento seguinte, graças a Deus, decidi que pra ser artista não precisa fazer um curso superior. Em algum outro momento, provavelmente no momento seguinte aos anteriores, decidi que estudaria Comunicação porque se na pior das hipóteses eu não fosse o artista, trabalharia com arte de forma indireta. Obviamente não foram momentos tão sequenciais assim.

Tenho 24 anos. Ainda estou na faculdade, ainda moro com minha mãe, ainda não tenho um bicho de estimação, ainda não tenho um relacionamento, ainda não tenho uma banda, ainda não gravei um disco, ainda não vivo da minha arte. Estudo jornalismo por razões que eu nem sempre consigo explicar pras pessoas (mas deve estar tudo ligado ao fato de quando criança eu ligava a câmera e brincava de VJ da MTV ou de anos mais tarde atender a imprensa em vários eventos em que trabalhei). De alguma forma, na minha cabeça, o jornalismo é algo que pode me levar até onde a arte está (e eu não quero discutir sobre se é o único meio para isso, se é o melhor meio, ou se eu realmente necessito de um diploma de jornalista pra fazer isso).

E aí eu penso nas coisas que eu deixei de ser ao longo do tempo. Porque a gente sempre pensa no que se quer ser, e não no que se deixou de ser. Deixei de ser um ótimo filósofo logo depois de entender o que me fazia diferente do resto das crianças. Assim, ali pelos 7, 8 anos, parei de ler livros de filosofia e psicanálise e só fui ler de novo anos mais tarde, mas aí já era tarde demais pra tentar ser algo nessa área. Deixei de ser um ótimo atendente do McDonald's pelo simples fato de que, trabalhando e estudando, ao mesmo tempo, eu não tinha tempo pra desenhar (graças a Deus eu deixei de ser um ótimo atendente do McDonald's). Deixei de ser balconista de locadora. Deixei de ser ótimo atendente de telemarketing. Deixei de ser um ótimo desenhista de histórias em quadrinhos. Deixei de ser um ótimo treinador de Pokémons quando deixei minha pokébola cair e quebrar em 91139004 pedacinhos. Deixei de ser um ótimo cantor quando decidi fumar. Deixei de ser um ótimo baterista logo na primeira aula, e deixei de ser um ótimo guitarrista algumas vezes. Eu poderia ter sido ótimo em todas essas hipóteses, mas não fui, por diversas razões.

E a cada dia que passa, eu quero ser ótimo em mais um monte de coisas. Quero ser um ótimo fotógrafo, quero ser um ótimo grafiteiro, quero ser um ótimo monge budista. Olhando o que eu queria ser e não fui, o que eu não queria ser e fui e o que eu ainda nem sei o que é mas serei eu penso que eu ainda não sei nem quem eu sou, muito menos o que eu posso ser.

Um comentário:

Rafael Soal disse...

porra, velho!
há muito, muito, muito, muito tempo um texto de um blog não me emociona tanto!

O terceiro parágrafo devia ser emoldurado!

enfim, pra quem se vê nessas linhas (\o), é apenas fantasticamente perturbador!

Prabéns procê!