quinta-feira, 28 de janeiro de 2010

Pé no chão

Amo andar descalço. Quando chego em casa, a primeira coisa que faço é tirar os sapatos. Estar com os pés livres é quase uma obsessão. Passar o dia inteiro dentro de tênis e meias quentes acaba comigo. Fico horas balançando os pés, brincando com meus dedos (ultimamente estou com certa fixação no meu calcanhar, mas não vem ao caso). Não que eu ame meus pés ou os ache bonitos, pelo contrário. A questão é que estar com os pés no chão me dá uma sensação de liberdade fora do comum.

Nunca pude andar descalço. Sempre tive problemas de saúde: alergia ao mundo, miopia (uso óculos desde os 6 anos), uma penca de problemas respiratórios e um sei-lá-o-que nas juntas que me fez usar aquelas botas ortopédicas durante a maior parte da minha infância. Eu SEMPRE estava calçando as malditas botas. Assim, por causa dos meus problemas de saúde, a PIOR coisa que eu poderia fazer era pisar no chão. Primeiro porque eu não conseguia andar muito bem sem a tal bota – caía sem parar, segundo porque o contato com a terra poderia me dar alergia (poeira me mata).

Até aí tudo bem, mas eu morava numa micro cidade do interior de Minas, sem calçamento nas ruas, numa casa já meio velha. Ou seja, o que mais tinha na minha vida era poeira. Meu organismo se acostumou (cof cof) ao ambiente e foi criando resistência aquilo, e, aos poucos, a alergia foi diminuindo – hoje em dia eu só fico espirrando muito ou com o nariz escorrendo, mas nada grave. Os problemas respiratórios (que também eram causados pelo excesso de poeira) também foram diminuindo com o tempo – e se eu não fumasse compulsivamente, talvez hoje eu respirasse normalmente e tivesse um pouco de fôlego.

Mas caminhar ainda era um problema. Sem as botas eu não podia ficar. Até dentro de casa eu estava sempre calçado. Isso foi me dando tanta aflição que eu fui criando maneiras de ficar descalço. Banhos prolongadíssimos, e depois deles, horas pra me enxugar. Ficar na cama o máximo de tempo possível. Até de bicho-de-pé eu gostava, porque me fazia ficar descalço – não poderia ficar o pé apertado numa bota após tirar o malditinho de dentro do meu dedo.

Atualmente, com a saúde (cof) melhor, ando descalço todo o tempo que posso. O máximo que faço é usar chinelo. Mas nada muito pesado nem com correias muito grossas, por favor. Havaianas tá de bom tamanho. Minha mãe, que pega no meu pé (rá) por qualquer motivo, fica lokadocu ensandecida quando me vê descalço e começa a discursar sobre tudo o que eu passei na infância e repete sempre que o médico disse que quando eu estiver com uns 30 anos vou ter dores terríveis nas pernas e problemas de circulação e de coluna (opa 30, já te sinto). Aí eu calço um chinelo qualquer e corro pro meu quarto, igual a como eu fazia quando criança, e fico com horas sentado com os pés no chão. Também gosto de dormir no chão (o que pode fazer mal pra respiração, porque o chão é gelado), e não posso ver um montinho de areia que já quero enfiar meu pé dentro.
Acho que tenho atração por tudo que me é proibido, tudo que é perigoso é mais gostoso. Gosto de deixar os pés no chão pra me sentir livre. E como disse alguém que eu não sei quem, o que me alimenta é o que me destrói. E não tem nada que me deixa mais feliz, e que me faça tão mal, como um simples pé no chão.

Um comentário:

Isabela Machado disse...

Nossa vey, juro que até o último parágrafo eu tava esperando alguma coisa do tipo 'tenho que sonhar menos e ser mais pé no chão', mas não era só o pé no chão mesmo. Hahahaha... Bonito!