sexta-feira, 19 de setembro de 2008

.último romance

Eduardo gritou para ela que escreveria uma música quando acordasse, mas que agora não queria mais vê-la. Na verdade queria sim, mas era arrogante demais para admitir isso diante da bela morena que conquistara seu coração numa tarde de outono dois anos atrás.

- “Falai baixo, se falais de amor”, ela disse.

- Citar Shakespeare não vai fazer você parecer interessante como eu achava antigamente.

- Sempre funcionou. Achei que talvez fosse o caso.

- Pois é. Dessa vez não vai ser. Amanhã a gente conversa. É melhor pros dois.

- Acho que mudamos muito. Não sei se vou conseguir te compor uma canção ao amanhecer.

- Picasso disse que “a arte é uma mentira que revela a verdade”. Talvez ele estivesse correto. Não sei se todas as suas canções falando de término eram pura fantasia.

- Você bebeu hoje? Não é de falar com as palavras dos outros.

- Talvez eu esteja inspirada pelo livro que você me deu mês passado. Só comecei a ler agora. Talvez seja hora de terminar de verdade. Essa história de brigarmos a noite e pela manhã você me acordar com música foi longe demais.

- Não sei. De vez em quando a gente perde a noção espacial e não sabe mais o que é longe, o que é perto. Não sei se você já chegou nessa parte do livro, mas bem, Paulo Bonfim uma vez disse que “passamos uma época da vida colecionando emoções...”

- “...e outra colecionando saudades.” Sim, eu já li. E concordo. Sabe, Eduardo, acho que já é hora de você entrar pra minha coleção de saudades.

- É. Acho que nunca mais vou compor nada tão belo quanto as músicas que escrevia ao acordar ao seu lado.

- Talvez sim, talvez não. O fato é que não estou mais disposta a correr o risco. Não que seja arriscado viver ao seu lado, mas é que.. simplesmente não dá mais.

- Eu sei.

Eduardo acordou na manhã seguinte num quarto frio de hotel, pegou seu violão e foi como se nunca antes tivesse tocado nada. Nenhum acorde saiu dos dedos já calejados.
Eduardo desistiu de viver de música naquele instante e desceu para tomar café.

trabalho sobre citações. fiz em cinco minutos, antes de começar a aula. o´título é homenagem ao Rod.

2 comentários:

rodajoke disse...

Muito bom, amigo! Valeu a homenagem. Estou em Sampa agora, escrevendo os Últimos Romances e quando de repente... li o seu.

Saudade!!
Beijão com carinho,

rodajoke disse...

À propósito, tenho post novo. : )